Debaixo da pia descansa o balde plástico com que se banha toda a família. Faz mais de vinte anos o encanamento desmoronou e para usar o vaso sanitário tem-se que trazer a água de um tanque no pátio. Quando chega o inverno, preparam um banho morno graças ao aquecedor elétrico feito com duas latas de leite condensado. Nenhum dos meninos da casa conhece a sensação do chuveiro caindo sobre seus ombros, pois a água só entra uma vez por semana. Ninguem pode - então - disperdiçá-la numa ducha.
No rítmo da caneca que baixa e sobe se limpam a maioria das pessoas que conheço. A depauperização das redes hidráulicas e os preços excessivos das peças de encanamento contribuem para o estado calamitoso das toilettes. Esse momento íntimo e prazeroso que deve ser o ato de lavar nosso corpo converte-se numa sequência de incômodos para boa parte de meus compatriotas. Ao mal estado da infra-estrutura há que se acrescentar que para comprar shampu e sabão é preciso essa outra moeda com que nos pagam os salários.
Juan Carlos e sua esposa conhecem bem a falta d`água e noites vigiando os canos. Em sua casa o precioso líquido chega a cada sete dias e só tem pressão para sair por uma tubulação junto ao solo. Para este casal, o balde e a caneca são ferramentas imprescindiveis sem as quais não conseguiriam cozinhar, lavar ou limpar a casa. Tantos anos sem poder abrir a pia e enxaguar as mãos os obrigaram a desenvolver uma metodologia que hoje nos exibem nestas imagens. É uma breve demonstração que - no dizer do meu magro amigo - “lhes vão causar riso, porém é patético e trágico o que está ocorrendo em nosso país”.
Yoni Sanchez in Generacion Y (Cuba)
Há 2 horas
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