sexta-feira, 5 de junho de 2009

Lixeira

As últimas sondagens revelam um aumento de votos brancos nas urnas do próximo acto eleitoral para as eleições europeias. Não bastava já a grande abstenção que se espera como, agora, cerca de 20% dos eleitores estão disponíveis para ir votar em branco. Dizendo de outra forma, 20% dos eleitores prepara-se para dizer não gostamos de nenhum de vocês, enquanto o valor da abstenção apenas pode expressar um clamoroso queremos que vocês se lixem!
Quem está a assistir ao desenrolar da campanha eleitoral percebe estes dois blocos de votação. A campanha transformou-se numa verdadeira estrumeira. Vital Moreira grita a Rangel que ninguém o cala. Rangel berra para Vital que ninguém o amordaça. Jerónimo de Sousa, com o descaramento habitual, passa o tempo a dizer que os outros partidos têm medo do PCP. Como se um ou dois deputados que elegem fosse o fim do medo do neoliberalismo. O Bloco de Esquerda mandou as europeias às urtigas e a única preocupação é ultrapassar o PCP. E finalmente o CDS, que embora também vá metendo as mãos no lixo de vez em quando tem um rasgo de lucidez e lá vai falando da política agrícola comum. Quanto ao resto do debate, o resultado a meio da campanha é: sobre a Europa nada; quanto a insultos, grande abundância. Uma vergonha. Esta gente está deliberadamente a destruir o sistema democrata. Há barbáries e insultos, há crítica sem sentido.
Não se ouve uma única palavra sobre a revisão do actual quadro de referência estratégica, não se ouve uma única palavra sobre as consequências do Tratado de Lisboa, não se ouve uma única palavra sobre os destinos de Portugal e a sua posição estratégica nesta Europa cada vez mais alargada, não se ouve uma única palavra sobre o que farão as empresas e os trabalhadores portugueses com a deslocalização económica para o leste da União Europeia, não se ouve uma única palavra sobre despoluição e qualidade das águas, não se ouve uma única palavra sobre a competitividade da cidadania. Absolutamente nada. Insultos, enxovalhos, a discussão em torno da imundície que é o BPN, o populismo em torno de outros casos judiciais, um falso moralismo de fariseus políticos que nos dizem ser candidatos europeus e se comportam como adolescentes zangados porque não são os donos da bola. Uma verdadeira lixeira. Mais uma ferida que sangra nesta democracia enxovalhada. Que Deus lhes perdoe, que cada vez há menos eleitores capazes de o fazer.
Francisco Moita Flores in C Manhã

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