sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O barulho da carroça

Certa manhã, o meu pai, muito sábio, convidou-me a dar um passeio no bosque.
Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno silêncio me perguntou:
- Além do cantar dos pássaros, ouves mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:
- Estou ouvindo o barulho de uma carroça.
- Isso mesmo, disse o meu pai, é uma carroça vazia...
Perguntei-lhe:
- Como podes saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?
- Ora, respondeu meu pai, é muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho.
Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que ela faz!

Tornei-me adulto, e até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, querendo demonstrar que é a dona da razão e da verdade absoluta, tenho a impressão de ouvir o meu pai dizendo :
- Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz!...

Autor desconhecido

Porque será que, ao ler este texto, me lembrei dos nossos políticos, particularmente dos que estão no governo actual?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

De onde vêm os bébés?

Agora que o (des)governo se prepara para fazer passar na A República a Lei do casamento gay, lembre-se como vai depois explicar esta situação, às crianças.

sábado, 21 de novembro de 2009

Ana Paula Lavado - Quando te disse

"Quando te disse
que era da terra selvagem
do vento azul e das praias morenas...
do arco-iris das mil cores
do sol com fruta madura
e das madrugadas serenas...

das cubatas e musseques
das palmeiras com dendém
das picadas com poeira
da mandioca e fuba também...
das mangas e fruta pinha
do vermelho do café
dos maboques e tamarindos
dos cocos, do ai u'é...

das praças no chão estendidas
com missangas de mil cores
os panos do Congo e os kimonos
os aromas, os odores...

dos chinelos no chão quente
do andar descontraido
da cerveja ao fim de tarde
com o sol adormecido...

dos merenges e do batuque
dos muquixes e dos mupungos
dos imbondeiros e das gajajas
da macanha e dos maiungos.

da cana doce e do mamão
da papaia e do cajú...

tu sorriste e sussurraste:
"«Sou da mesma terra que tu!»"
Ana Paula Lavado

Minhas fotos - Alentejo







Dança do varão

Tentando esquecer um pouco a "nojeira" que vai por este país (o meu país) um pouco de humor.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Godinho fotografado a dar saco a Vara

A nossa Judiciária é de umas minudências que até parece mais uma campanha negra (contra o 1º ministro, claro). Que exagero. O que o Godinho foi visto a dar ao Vara não era mais nem menos que um saquinho com rebuçados pra tosse...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Frase do dia

Muita gente tem dito que o Sócrates viaja demais.
Bem!! O problema não é esse!
O problema é que ele volta...

Alexis de Tocqueville

La démocratie donne toute sa valeur possible à chaque homme, le socialisme fait de chaque homme un agent, un instrument, un chiffre.
Alexis de Tocqueville

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Nada de excitações

Calma. O Ministério Público chegou à conclusão de que o contrato de concessão do terminal de contentores de Alcântara foi feito à medida dos interesses do grupo Mota-Engil. Evidentemente que esta evidência não significa que alguém vá preso. Nada disso. Neste caso, o negócio foi feito por anjinhos que não receberam nada em troca e só pensaram, a todo o momento, nos interesses estratégicos do sítio. É natural.
É em nome desses interesses estratégicos que o Estado anda metido em tudo e mais alguma coisa. A esquerda baba-se com os sectores estratégicos e as empresas estratégicas. Pois é. É a face visível de um sistema corrupto, cada vez mais corrupto, em que vale tudo para fazer fortuna e impor aos privados regras sujas de um jogo cada vez mais porco e repelente. Agora aí está mais uma operação policial que descobriu uma pequena parte da face oculta do sistema. No centro do caso, que está a excitar os indígenas, aparece um sucateiro que criou um grupo empresarial ao fim de muitos anos de trabalho e que terá corrompido uns senhores de colarinho muito branco para fazer negócios com empresas estratégicas do Estado, empregar centenas de trabalhadores e pagar-lhes os salários.
Obviamente que está preso. Os outros, senhores de gravatas caras que circulam nos corredores do poder e das empresas públicas estratégicas há imensos anos, ligados aos partidos do Bloco Central, os patrões do polvo, andam por aí à espera de novas e mandados já com um rol imenso de defensores. É evidente que neste sítio manhoso, cada vez mais manhoso, corrupto, cada vez mais corrupto, pobre, cada vez mais pobre, deprimido, cada vez mais deprimido, cheio de larápios, e que larápios, chicos-espertos, e que chicos, cheio de mentirosos, e que mentirosos, e obviamente cada vez mais mal frequentado, o que não falta é sucateiros que só sobrevivem corrompendo os patrões do sistema.
Claro que não são todos iguais. Há os pequenos, os médios e os tubarões. Desta vez caiu na rede um à medida do sistema que andou por aí a fazer negócios corruptos com várias empresas estratégicas do Estado. Obviamente que está preso. Mas nestas coisas de corrupção é preciso muita calma. Nada de excitações. As campainhas de alarme já começaram a tocar em todos os corredores do poder, e, mais cedo do que tarde, em nome dos altos interesses do Estado, tudo irá voltar à normalidade. A porcaria vai assentar e os corruptos vão continuar a fazer a sua vidinha à sombra desta democracia de muitos maus costumes.
António Ribeiro Ferreira, Grande Repórter in Correio da Manhã

Os Intocáveis

O processo Face Oculta deu-me, finalmente, resposta à pergunta que fiz ao ministro da Presidência Pedro Silva Pereira - se no sector do Estado que lhe estava confiado havia ambiente para trocas de favores por dinheiro. Pedro Silva Pereira respondeu-me na altura que a minha pergunta era insultuosa.Agora, o despacho judicial que descreve a rede de corrupção que abrange o mundo da sucata, executivos da alta finança e agentes do Estado, responde-me ao que Silva Pereira fugiu: Que sim. Havia esse ambiente. E diz mais. Diz que continua a haver. A brilhante investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro revela um universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça.O país tem de saber de tudo porque por cada sucateiro que dá um Mercedes topo de gama a um agente do Estado há 50 famílias desempregadas. É dinheiro público que paga concursos viciados, subornos e sinecuras. Com a lentidão da Justiça e a panóplia de artifícios dilatórios à disposição dos advogados, os silêncios dão aos criminosos tempo. Tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de crimes na habituação. Foi para isso que o primeiro-ministro contribuiu quando, questionado sobre a Face Oculta, respondeu: "O Senhor jornalista devia saber que eu não comento processos judiciais em curso (…)". O "Senhor jornalista" provavelmente já sabia, mas se calhar julgava que Sócrates tinha mudado neste mandato. Armando Vara é seu camarada de partido, seu amigo, foi seu colega de governo e seu companheiro de carteira nessa escola de saber que era a Universidade Independente. Licenciaram-se os dois nas ciências lá disponíveis quase na mesma altura. Mas sobretudo, Vara geria (de facto ainda gere) milhões em dinheiros públicos. Por esses, Sócrates tem de responder. Tal como tem de responder pelos valores do património nacional que lhe foram e ainda estão confiados e que à força de milhões de libras esterlinas podem ter sido lesados no Freeport.Face ao que (felizmente) já se sabe sobre as redes de corrupção em Portugal, um chefe de Governo não se pode refugiar no "no comment" a que a Justiça supostamente o obriga, porque a Justiça não o obriga a nada disso. Pelo contrário. Exige-lhe que fale. Que diga que estas práticas não podem ser toleradas e que dê conta do que está a fazer para lhes pôr um fim. Declarações idênticas de não-comentário têm sido produzidas pelo presidente Cavaco Silva sobre o Freeport, sobre Lopes da Mota, sobre o BPN, sobre a SLN, sobre Dias Loureiro, sobre Oliveira Costa e tudo o mais que tem lançado dúvidas sobre a lisura da nossa vida pública. Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: os agentes do Estado protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial que rendem 147,5% ao ano. Lida cá fora a mensagem traduz-se na simplicidade brutal do mais interiorizado conceito em Portugal: nos grandes ninguém toca.
Mário Crespo in JN 02/11

Até a corromper fazemos figura de pobrezinhos

E cá vamos nós outra vez. Uma dúzia de arguidos. Uma investigação que atinge o coração do sistema político e económico. As notícias a pingarem nos jornais em cadência pré-estabelecida. Um processo já com oito mil páginas. O cuidado posto pelos investigadores no timing da acção (pós-eleições, pós-tomada de posse), revelador do equilíbrio cada vez mais frágil entre o poder executivo e judicial. Os envolvidos a garantirem a confiança na justiça enquanto vão desmentindo o que a justiça apurou até ao momento. Políticos importantes a explicarem que não comentam casos judiciais. Um caso judicial que dia-a-dia se aproxima de políticos cada vez mais importantes. A alternância na trafulhice: um megacaso envolvendo gente do PSD para ti, um megacaso envolvendo gente do PS para mim. O país atravessado pela velha sensação do "eles são todos iguais". A evidência dos milhares de negócios feitos à sombra do Estado onde a corrupção campeia.
Pode dizer-se que nada disto é novo. Que já vimos tudo isto muitas vezes. Que esta Face Oculta é apenas mais uma das mil faces de um Portugal centralizador e, por isso, estruturalmente corrupto. Mas, na verdade, há aqui alguma coisa de novo: a dimensão. Não a dimensão no sentido "vejam tantos milhões e tantas pessoas importantes envolvidas". Isso é o caso BPN. Aqui a dimensão é outra, e é essa outra dimensão que espanta: a forma como uma sucateira de Ovar consegue alegadamente corromper quadros de topo das maiores empresas nacionais. Um pequeno selfmade man com muitas notas e capacidade para oferecer Mercedes topo de gama chega à EDP, à Galp, à Refer, à REN, à PT, com a maior das facilidades influenciando concursos a seu favor. Um chico-esperto com os bolsos cheios consegue enfiar no bolso dezenas de pessoas poderosas. Mais do que isso: tem a pretensão de poder afastar presidentes de empresas estatais que lhe dificultam a marosca. Eu já vi coisas destas, sim. Mas era um episódio de Os Sopranos.
Esta facilidade com que um muito pequeno influencia os muito grandes é a coisa que mais se aproxima em Portugal de um procedimento mafioso. Mas não há corpos atirados para o rio: à boa maneira lusitana, é uma cosa nostrinha. Portugal é um país livre da mmfia porque não é preciso ameaçar ninguém com uma pistola. Basta abanar com um maço de notas. Um Mercedes com jantes de liga leve? Ó meu amigo, leve lá a sucata para casa. Dez mil euros? Está bem, eu faço dois ou três telefonemas. Golpes de colarinho banco com os quais se compram ilhas em paraísos tropicais eu ainda posso perceber. Mas esta corrupção dos pobrezinhos nas maiores empresas portuguesas é verdadeiramente deprimente. Até a roubar temos de ser rascas?
João Miguel Tavares in DN

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Criminilização de enriquecimento ílicito

O PCP apresentou hoje na Assembleia da República um projecto de lei para a criminalização do enriquecimento ilícito, acreditando que a proposta, já defendida na anterior legislatura, possa agora ser aprovada pelo Parlamento, sem maioria absoluta do PS.

É capaz de não ser muito curial nesta altura. É que se a Lei for aprovada, provávelmente, vamos ficar sem (des)governo durante uns tempos e além de as cadeias não terem instalações para tanta gente... podemos vir a entrar num ciclo em que o povo irá, inevitávelmente, chegar à conclusão de que afinal esses senhores andam cá a fazer muito pouco e o que fazem é mal!!